Era para sentir pena?
Vendo a comoção das pessoas - fãs e não fãs - pela perda de uma pessoa tão jovem e talentosa, como Amy Winehouse, sinto-me uma estranha neste mundo que chora, pois eu não choro. Nem sinto vontade! Por que me sentiria triste por uma pessoa que buscou a autodestruição nas drogas? Será que sou desumana, incapaz de sentir pena de um ser que se deixa levar por um vício, ou melhor, uma vítima da dependência química (é assim que chamam os viciados hoje em dia)?
Conheço o vício de perto. Minha mãe, que hoje tem 74 anos, foi alcoólatra durante quase 40 anos e só não perdeu a família porque tinha uma pessoa do seu lado que a amava demais! Meu pai. Ele nunca desistiu de fazer minha mãe se curar. Internou-a várias vezes, mas não era isso o que ela queria e, pouco depois que saía da clínica, voltava ao vício. Não sei bem qual foi o estalo dentro dela. Ela diz que encontrou o tratamento correto para ela, na última clínica em que a internamos. O fato é que já deve fazer quase 15 anos que ela não coloca uma gota de álcool na boca. Minha mãe, para mim, é um grande exemplo de determinação. Minha admiração e amor por ela são sentimentos indescritíveis!
Falando em autodestruição, tive um primo que morreu de AIDS. Ele era oito anos mais velho do que eu e era o meu ídolo, quando menina. Para mim, ele era o mais inteligente dos rapazes, o mais incrível, o que conhecia o mundo todo, o que falava vários idiomas e sabia tudo sobre cinema e música. Quando me contou que era homossexual, nada disso mudou. Continuava achando que ele era tudo aquilo. Anos mais tarde, quando soube que ele havia contraído o vírus, fiquei arrasada por ele e por tudo o que ele passaria e, quando ele morreu, chorei muito. Pela falta que ele iria me fazer e por todo o sofrimento que ele passou, mas sempre soube que foi vítima de uma escolha sua. Não a de ser homossexual, mas a de não fazer sexo seguro.
Amy entrou para o “Clube dos 27”, como chamam o grupo de artistas da música que morreram aos 27 anos, como Janis Joplin, Jimi Hendrix, Brian Jones, Jim Morrison, Kurt Cobain, entre outros. Além da idade, o que todos tinham em comum? O uso abusivo de álcool e drogas. Se todos morreram por causa das drogas, eu não posso afirmar, mas todos levaram o mesmo estilo de vida e, por isso, se viessem a morrer pelas drogas, estavam completamente conscientes disso, desde a primeira vez que experimentaram e insistiram em seguir adiante.
Minha mãe, hoje, é voluntária em uma clínica para recuperação de dependentes químicos, a mesma onde ela conseguiu se recuperar. Ela ainda diz que é uma alcoólatra, pois a “doença” nunca deixa a pessoa. Basta o primeiro gole para acordar o monstro que vive lá dentro. Ela sente muita pena dos outros dependentes e não mede esforços para ajudá-los. Enquanto eles estiverem ali, tentando se recuperar, até têm o meu respeito, mas, assim que saem de lá e retomam às drogas, sinceramente, mãe, não vale a pena. Mas ela diz que sim.
Talvez, por ter visto o monstro tão de perto e sentido a sua força minha mãe tenha uma opinião diferente da minha. Acho, porém, que não é preciso vê-lo de frente para saber o quão horrível e destrutivo ele é. Todos sabem, e aqueles que conseguiram sobreviver a ele também o dizem.
Então, não dá pra ter pena de quem teve tudo na vida (sucesso, dinheiro e talento) e, mesmo assim, resolveu fazer roleta russa com o tambor carregado. Amy viveu a vida que quis, foi verdadeira e contou isso ao mundo na música Rehab. Ter pena do que?
Comentários
falta de apoio nao foi, pois ao lado de um viciado tem sempre alguem que acredita que ela possa sair dessa!
Ela procurou e encontrou.
Pena do que ela poderia ter feito e nada fez? daí sim, to mais que um pavão, cheinho de penas.
Esse merece porrada, né.
Beijão.