Guia prático de sobrevivência

“Você se sente fracassada e velha? Pois bem. Provavelmente é porque você está mesmo! Então, avalie suas possibilidades para tentar ser uma pessoa de maior sucesso (alguma coisa você deve fazer bem feito! Caso contrário, é caso perdido mesmo) e contrate um cirurgião plástico de confiança. Se não tiver dinheiro pra isso, conforme-se. A velhice é uma realidade para todos!” Você já encontrou conselhos assim em livros de auto ajuda? Eu, nunca.

Se você precisa de uma ajudazinha espiritual, moral ou psicológica, encontra aos montes frases, ditados e pequenos textos que lhe mostram o caminho da paz, da saúde e do bem estar. Eu sou uma delas, que – vez ou outra – mando ver nas pílulas de sabedoria. Mas encontrei poucos guias PRÁTICOS de sobrevivência. Não como lidar com os sentimentos, mas o que FAZER para definitivamente resolver um problema. Não para sermos completos ou felizes, porque isso é pedir demais, mas para se livrar daquele problema específico.

Algo como “você traiu seu marido e não consegue conviver com a culpa? Deveria ter pensado nisso antes, mas já que não pensou, então trate de limpar a sujeira. Conte tudo e se prepare para o furacão que vem pela frente ou não conte nada e finja que está tudo bem. De qualquer maneira você terá algo com o qual conviver, sozinha!”

“Você se sente triste, sem ânimo pra nada e ainda assim tem que levantar cedo, trabalhar, cuidar dos filhos, da casa e do marido? Saiba que você não é a única! Existem milhões como você e outros milhões muito pior! Ao menos você tem um trabalho! Mas, se você não está feliz com ele, peça demissão e procure outro! Ah, mas tem a família pra criar? Então procure outro sem pedir demissão e pare de reclamar!”

Seria meio deprimente, mas seria ótimo! Deixarmos de enganar a nós mesmos com banhos de sabedoria e serenidade quando, no fundo, o que mais queremos (e precisamos) é jogar tudo pro alto! Dar aquele soco bem dado na cara de alguém, sumir por uns dias, não ir tomar café com aquela vizinha chata, mas que é amiga da amiga da sua mãe (ou pior, madrinha do seu filho!).

Como não podemos fazer nada disso, só nos resta administrar a nossa frustração. E, para domarem o nosso instinto, vendem livros de auto ajuda! A sociedade civilizada espera que sejamos pessoas boas, sempre sorridentes, felizes e amigas. E nos oferece excelentes meios para isso, desde que você tenha dinheiro, claro.

Temos todas as ofertas possíveis para nos sentirmos melhor. Financiamento bancário, viagens, centros de estética, academias, escolas, restaurantes, boates, casas de swing! Olhe em volta e veja quantas oportunidades de diversão e lazer existem por aí! E, mesmo assim, parece não ser suficiente. E não é!

A menos que você esteja gorda e flácida, uma academia não vai ser útil para você resolver o seu problema no casamento ou nos negócios! Os paliativos são úteis desde que haja consciência de que são apenas um momento para respirar e tomar fôlego, não para resolver definitivamente o problema.

Primeiro, acalme a mente para distinguir o que é real do que é imaginário (muitas vezes inventamos problemas para justificar a nossa apatia). Depois, analise friamente o problema, quando e como agir. E faça algo! Mas lembre-se que, algumas vezes, agir é exatamente não fazer nada, caso o problema exija um simples “dane-se”!

Ah, e se você chegou ao fim da leitura e pensou “ok, mas de concreto este texto não me trouxe nada”, saiba que o objetivo não é lhe dar uma solução (quem me dera haver uma!) é apenas lhe dar algo em que pensar:

Nenhum problema se resolve sozinho. Alguém o resolveu por você. Seja porque realmente não cabia a você fazer nada, ou porque você foi fraco o suficiente para não fazer nada. Neste caso, se o resultado não lhe satisfez, da próxima vez, tente você mesmo.

Comentários

SEMPRE GOSTO DE LER OS COMENTARIOS QUE DEIXAM EM MEUS TEXTOS, MAS NAO TENHO PALAVRAS PAEA COMENTAR ESSE SEU TEXTO, MAS COM CERTEZA GANHEI SUBSIDIOS PARA PENSAR.

PARABENS

VENUTO
Obrigada pela leitura, José!
Refletir é uma das melhores coisas da vida. É uma oportunidade para conhecermos os outros e a nós mesmos.

A idéia do guia prático surgiu de uma vontade muito grande de, mais do que compreender a causa do problema, realmente fazer as coisas acontecerem. Uma coisa está intimamente ligada à outra, mas muitas vezes, usamos da desculpa de reconhecer o problema para ficarmos inertes. Afinal, estamos "fazendo" alguma coisa, estamos "entendendo" o problema.

Estamos é fugindo do problema e não tentando resolvê-lo pq, no fundo, todos sabemos as causas de tudo em nossa vida, só não queremos enxergar.

Grande abraço! Érika