Fé cega, em breve nos cinemas

Vamos supor que Deus tenha desistido da humanidade. Vamos supor que o desgosto que demos a ele tenha sido tão grande que ele tenha decidido, de novo, acabar com todos nós.


Vamos supor que, para o nosso massacre, ele tenha optado por algo diferente de dilúvio ou fogo. Vamos supor que ele tenha ordenado aos anjos que nos exterminassem! E, finalmente, vamos supor que a ordem de Deus tenha sido questionada por um anjo (viva a anarquia!), que ele tenha abdicado de ser anjo para ir contra a vontade de Deus e vir nos proteger! Este anjo teria perdido a fé em Deus?


Esta é a trama do filme Legion, que estreia em abril, no Brasil. Um filme que, na minha humilde opinião, é um dos melhores filmes sobre o tema. A profundidade do questionamento da fé é algo que, talvez, poucos se deem conta e se atenham mais aos efeitos especiais. Mas, por trás de toda a fantasia desenhada em Legion, há uma questão séria e muito, muito atual. O que é fé? Devemos obedecer cegamente às ordens de Deus?


Não é à toa que escolhi o título acima e muito menos este e outro filme como exemplo. Digo, repito e reafirmo quantas vezes for preciso (não obstante as críticas): não creio em Deus; não creio na divindade superior que pregam sobre Ele; não obedeço às ordens de Deus. Obedeço à minha consciência, ao meu caráter, ao que acho ser certo, o que não faz de mim ser superior algum, faz de mim uma pessoa comum, igual a todos. Faz de mim uma ignorante no assunto religião e não uma cátedra. Muito, muito ao contrário! Sou tão ignorante que já procurei respostas em várias religiões e nunca as encontrei. Não encontrei as provas que procurava, provavelmente porque elas realmente não existam! Não encontrei provas da existência deste Deus onipresente, onipotente. Alguém as têm?


Entenda quem entender, como e bem entenderem, mas obedeço ao meu coração, repleto de bondade, humanidade e solidariedade. Creio que não seja preciso um Deus ou uma religião para nos dizer que ser bom é o certo. Não sou e nem serei a única a pensar assim, só espero não termos o mesmo final que muitos tiveram, a exemplo de outro filme, Ágora (de Alejandro Amenábar), que conta a vida da filósofa e astrônoma Hypatia.


Baseado no Egito do século IV d.C., Hypatia, que até o domínio da religião cristã era considerada uma sábia, tornou-se uma ameaça à Igreja. Ao final, Hypatia (como todos) deveria aceitar a palavra de Deus. E ela diz: "Não posso obedecer a Deus sem questioná-lo". E respondem a ela "não se questiona Deus!". Não? Talvez por isso eu não O aceite ou não aceite as religiões, embora eu respeite os que crêem e as sigam.


Hypatia foi apedrejada pelos radicais cristãos por questionar, por não se curvar cegamente às ordens de Deus, por não aceitar a disputa entre as religiões, por querer - acima de tudo - entender ao invés de aceitar. Hypatia foi apedrejada por ser uma ameaça e seu corpo foi arrastado pela cidade de Alexandria, do mesmo modo como fazem, ainda hoje, radicais islâmicos.


Já em Legion... bem, quem quiser saber o fim do anjo caído que desobedeceu a Deus, assista ao filme. Só digo que, em um determinado momento, o anjo caído se justifica perante outro anjo: "Você fez o que Deus ordenou. Eu fiz o que Ele queria". Talvez, para entender Deus deve-se questioná-lo e desobedecê-lo, às vezes. Seguir o seu coração pode te levar ao caminho mais correto do que seguir palavras escritas em livros séculos atrás.


Acho que contei o final do filme!!!!! Sorry guys!