Então o casamento acabou...

Então você se separou. Aquele tempo afastados que deveria servir para fortalecer a mente, reabastecer as energias e encher o coração de saudades, esperança e vontade de lutar, não deu certo. O outro preferiu seguir carreira solo, ou pior, a dois, mas com outra pessoa. 

Você se desespera, sente aquela facada no peito, a puxada de tapete, e cai de cabeça no chão. Você se sente como em uma montanha russa de sentimentos, a mais nova bipolar da turma. Saiba que você não está sozinha, que tudo isso vai passar e você vai ressurgir linda e forte. Acredite, porque é assim com absolutamente todo mundo!

No início, você não entende bem de onde vem a dor porque ela vem de todo lugar: da saudade, da raiva, da falta de autoestima, da decepção, da desilusão, dos anos em vão (especialmente se o relacionamento foi duradouro). Você passa o dia inteiro pensando nisso e dói, como o avesso da paixão. Os amigos vão tentar lhe consolar e ajuda, momentaneamente. Quando o silêncio ao redor volta, as lágrimas brotam novamente.

O papel de vítima lhe cai bem, mas você não percebe. Sente uma genuína angustia. "Você tem que reagir", dizem os outros. Você tenta caminhar novamente e os amigos vêm lhe contar das coisas que ele tem dito, feito e exibido por aí sobre você. Eles não fazem por mal, acham que o seu choro não vale a pena, que você é mais do que aquela coisinha caída no chão. Eles amam você demais para vê-la na ilusão.

O chão some novamente e o abismo parece não ter fim. Você se machuca na queda, se arranha toda e a cabeça parece que vai explodir. Você briga, xinga, devolve a falta de respeito, mas nada alivia. Aí, então, você dá novamente um basta. Finge um sorriso, começa a aceitar os convites para se divertir, mas isso também não dura muito porque você ainda não entende, não consegue ver o todo.

O cai e levanta parece que nunca vai acabar. A concentração no trabalho acaba, você para de comer e adoece. De novo, você sente que está se afogando em mágoa e decide, realmente, fazer alguma coisa. O desejo de viver e vencer são mais fortes do que qualquer tendência ao vitimismo ou ao chumbo trocado.

É quando, finalmente, a mágica acontece. 

Você começa a ver a situação de um patamar mais elevado, não mais do chão onde você se deixou ficar por tanto tempo. Sim, você! O outro pode pisar em você, surrar, humilhar e desrespeitar, mas é uma dança a dois. Você pode sair de sob a sombra do abuso, pode levantar-se em seus próprios pés e sair andando para longe do jogo vicioso. E você sai!

Os sentimentos começam a amadurecer e você retoma o controle, o real controle sobre os seus sentimentos e descobre que, independente do que façam, é você quem decide o que vai sentir. E você decide por não sentir mais nada. O seu foco, agora, é outro. É em você, na maravilhosa pessoa que você sempre foi e quer continuar sendo. Naquele ser iluminado, cheio de vida, energia e sorriso. Não mais um sorriso forçado porque lhe disseram que você tinha que ser assim, mas aquele que vem da alma, da sua alma intacta e pura.

Você volta a dar valor ao que antes tanto prezava. A amizade, a convivência diária com os colegas de trabalho, a harmonia dentro de casa e em si mesma. Você sorri para a vida e ela lhe sorri de volta de braços abertos para a sua nova existência.

Você vê que o ponto final é, na verdade, apenas o fim de um capítulo. E você começa a reescrever a sua história onde não há mais lugar para tristeza, não importa o que façam, você está longe demais para ser atingida. Sem você perceber, a cura já começou e o processo é irreversível.

O outro se torna apenas... o outro, não mais uma extensão de você. A indiferença quanto à felicidade ou infelicidade do outro é libertadora. Apenas você importa e tem que ser assim porque, afinal, a única pessoa responsável por você é você mesmo. 

E quando você olha para trás, não se arrepende de nada. Nem mesmo das noites não dormidas ou das lágrimas perdidas porque foram aqueles momentos de dor e loucura que fizeram a ferida sangrar à exaustão. Faz parte da cura, do cicatrizar. Forçar a ferida a se fechar ou fingir que ela não está lá, só vai perpetuar a dor. Ela tem que secar, criar casca e, finalmente, se fechar. Só assim você poderá tocá-la sem sentir mais nada. A cicatriz vai ficar, mas até isso é bom. Faz parte do seu amadurecimento, da sua história, assim como as rugas e marcas de expressão.

Você é o que carrega por dentro. Preencha o vazio deixado pelo fim da relação com coisas boas, com amor próprio, com alegria, entusiasmo e esperança porque, acredite, ninguém morre de amor. Amor não foi feito para machucar. Se machuca, não é amor. É posse, é ciúmes, é martirização, desgosto e desilusão.

Amor enche o nosso peito de vontade de fazer o bem, de perdoar, de ser feliz e gerar felicidade. Ame-se, em primeiro lugar.

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