Deletando pessoas




De vez em quando, é bom fazer uma limpeza em nossos baús. Jogar quilos de papéis fora, organizar documentos e roupas. É mais do que necessidade de organização. É uma redefinição de projetos e prioridades, um exercício de concentração e objetividade. 

Não existem mais "coisas a fazer" ou, no máximo, estarão em uma pasta com uma etiqueta branca escrito “PENDÊNCIAS” em letras de forma. E, só isso, já nos faz sentir no controle, novamente. Mas quando o lance é editar relações humanas, a coisa pega.

Internet, redes sociais e emails nos aproximaram de pessoas que há anos não víamos e, com isso, os contatos eletrônicos se transformaram em uma lista infinita de números, endereços e fotos. Eu, particularmente, às vezes, me sinto carregando todo o anuário escolar nos ombros quando abro meu Facebook. Quase vejo as teias de aranha engolindo o monitor. 

Chega. É hora de limpar isso aqui também, então, mãos à obra. 

Total de “amigos”: 521. Objetivo: eliminar uns 300 (impossível que eu tenha mais de 200 amigos). Hmmm... vai levar mais tempo do que eu imaginava, mas tudo bem. Vou deixar somente aqueles com quem tenho mais contato. Afinal, existe diferença entre AMIGO e conhecido, ex colega de escola, ex colega de trabalho, ex vizinho, ex professor, etc. Essa coisa de EX já diz tudo: EXcluir.

Vou rolando as fotos e, com alguns, me espanto que ainda estejam ali. Nível de relacionamento: zero. Destino: não é problema meu.

Outros, me fazem sorrir de satisfação só de vê-los. Quantas lembranças boas de um tempo que não volta mais. Nível de contato: entre zero e um. Mesmo assim, são pessoas que valem a pena ter por perto só para, vez ou outra, saber como estão ou simplesmente olhar seus rostos ali, olhando para mim como se estivéssemos juntos tomando um café num silêncio aconchegante.

A terceira categoria é daqueles que são essenciais em minha vida. Nível de relacionamento: máximo. Passo correndo o mouse com medo de deletá-los por engano. E pronto! Trabalho feito.

Fim da faxina: 500 amigos. Como??????? Não é possível! Volto e olho tudo de novo. E de novo e de novo. Chego a uma difícil conclusão: deletar pessoas em nossas vidas é mais difícil do que se possa imaginar. Pelo menos, para mim.

Simplesmente, não consigo excluí-las. Podem ser apenas um nome em uma das páginas no livro da minha vida, mas são nomes que, por algum motivo, me fazem lembrar o quanto minha vida foi magnífica, até hoje. Ou o quanto estou ficando velha....

Excluí-los seria apagar a existência da minha infância, da minha adolescência, do meu primeiro emprego, da paixão pela leitura, pelo artesanato ou pelo cinema. Cada um está ali por um motivo.

Pensei que fosse mais fácil. Pensei que eu poderia separar as pessoas como separei os papéis inúteis da gaveta ou as roupas do armário. Mas pessoas são como pérolas num colar de mil voltas. Vivências e memórias que, juntas, formam o que eu fui e o que eu sou.

Daqui a algumas semanas vou tentar novamente, com olhos mais afiados e coração mais duro. Se vou conseguir? Não sei. E, sinceramente, nem sei se quero de verdade.

Comentários

Antonio cenzi disse…
Obrigado por não me deletar. Rsrsrs. Abraço.
hahahahaha!!!!!
Obrigada a vc!
beijao!