Os cegos, os surdos, os mudos e os roucos
Amigos brasileiros, sou solidária à sua indignação, frustração, decepção e revolta. Sou solidária aos seus gritos por mudança, por limpeza, justiça e honestidade. Sou, entretanto, uma solidária silenciosa. Poupo minha voz pois de rouquidão já tive o bastante.
Não faz muitos anos, eu também fui uma idealista política. Participava de comícios, de discussões acaloradas, pregava as minhas convicções, lutava pelo que eu achava o melhor para a minha comunidade e o meu país. Ah... Se eu ainda fosse aquela pessoa, hoje estaria enfartando.
Não faz muitos anos, eu também fui uma idealista política. Participava de comícios, de discussões acaloradas, pregava as minhas convicções, lutava pelo que eu achava o melhor para a minha comunidade e o meu país. Ah... Se eu ainda fosse aquela pessoa, hoje estaria enfartando.
Pedofilia e erotização infantil sendo tratadas como arte, corrupção revelada em detalhes sem nenhuma mudança, a violência urbana só piorando assim como o terrorismo doméstico e internacional.
Percebi, há alguns bons anos, que o povo é dividido entre os cegos (que não vêem por ignorância dos fatos ou comodismo), os surdos (que não querem ouvir), os mudos (que sabem, mas não se manifestam) e os roucos, que se indignam, esbravejam e - eventualmente - se frustram, pois o Brasil nunca vai ser um país sério e honesto, por mais rouco ou louco que você fique.
Como jornalista, tentei usar da minha profissão para mudar a sociedade à minha volta. Hoje, estou oficialmente aposentada desta necessidade de querer mudança, de lutar ou sequer me indignar. Saí de cena para dar lugar a outros jovens e aqueles cujas ideias nunca envelhecem.
Ainda leio jornais todos os dias, mas não sinto necessidade de expressar minha opinião a cada evento que me choca. Não anseio mais por mudar o mundo. Reconheço a minha limitação perante este cenário caótico, impregnado de maldade e ganância. Eu seria um zumbido na multidão, mais um peixe nadando contra a correnteza. Não, obrigada. Posso levantar uma questão ou outra com o intuito de ouvir opiniões, mas longe de mim erguer ou carregar qualquer bandeira.
Acho que envelheci ou apenas não existe mais um lugar para mim no mundo lá fora. Meu lugar hoje é dentro. Dentro da minha casa e da família, do meu ambiente de trabalho, do meu círculo de amizades e da minha comunidade. Sou menos ambiciosa, mais serena e com as cordas vocais em dia.
Quero paz, sombra e água fresca e se eu puder tocar o coração das pessoas à minha volta e fazer a diferença positiva em suas trajetórias, já terá valido a pena passar por esta vida.
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