Os cabides no armário

Começando a preencher o vazio.
No guarda-roupas, pelo menos...
A aliança ainda está no dedo, o armário ainda está vazio, mas o lugar especial no seu coração ainda é do outro. Aquele espaço que antes era ocupado pela cumplicidade, companheirismo e amizade está vazio e você se dá conta de que o vazio pesa.

Ele é um buraco negro apavorante e ao mesmo tempo tentador. O seu único desejo é de se fechar em suas lembranças com medo de que elas e os longos anos juntos sejam sugados para o infinito, extirpados de você sem misericórdia pelas últimas mensagens trocadas cheias de rancor de ambos os lados.

"E por que não seriam?", pergunta-se o Medo. "Aquele laço que outrora era visto como indestrutível não o era, afinal. Por que as lembranças seriam?"

"Porque elas estão imunes à dor" responde a Esperança. 

E você se agarra a elas para que todos os anos a dois não se transformem em mera ilusão. 

"Mas eles foram uma ilusão", afirma a Amargura. "Assim como aquele tempo afastados que você propôs na tentativa de acertar as coisas", continua. "E quando a sua filha lhe perguntar se amor verdadeiro existe, não minta. Tal coisa não existe".

"Será que desistimos cedo demais?" pergunta-se o Remorso.

Os hormônios estão em ebulição - principalmente se você for mulher na casa dos 50 - e domam você como se fossem fios atados à uma marionete. Você estará, ora no chão, ora nas alturas; jogado para a direita e depois para a esquerda, para cima e para baixo até que a tensão nas cordas se desfaz e você é deixado no chão, imóvel, cansado e confuso. 

Manter a mente sã durante esta tempestade é como se agarrar ao mastro de um barco à vela. Você não deixará de se sentir nauseado, tonto, amedrontado e fragilizado, mas ao menos não vai se perder no mar turvo das emoções. 

A tempestade vai passar um dia, mas, por hoje, talvez você se contente com apenas os cabides no armário.

Comentários

Rosana disse…
Obrigada pelas palavras! :-)