Aqueles dias...
Todo mundo que escreve, vive períodos "sem assunto" ou pior, quando os assuntos chovem e você não consegue absorvê-los. São como a neve que tem caído por aqui. Ela vem densa e cheia de vontade, mas antes de tocar o chão já virou água e cai tão anônima quanto qualquer outra gota de chuva.
Não sei o que está acontecendo comigo. Novo Papa na área (argentino, ainda por cima!), Chávez morreu, a crise entre as Coreias e eu sem vontade de falar sobre nada!!!
O mundo tem me parecido um ciclo tedioso. A vida correndo solta, fatos relevantes pipocando pra todo lado e eu olhando pra tudo isso como se fossem anúncios de shampoo na televisão.
Nada me toca, nada me choca, nada me inspira. Só tenho olhos e ouvidos para os meus próprios problemas; minha luta diária para conseguir pagar as despesas no final da semana (aqui aluguel se paga por semana!).
Faço força para observar as pessoas na rua, nos trens e metrôs como se a vida alheia pudesse me inspirar de alguma maneira. Criar uma crônica sobre o comportamento dos britânicos, mas só consigo pensar no quanto estamos todos ilhados em nossos pequenos mundos.
Hoje eu contei. De sete pessoas ao meu lado no trem, cinco estavam fazendo algo em seus celulares e dois estavam lendo um jornal gratuito que distribuem nas estações. Ninguém olha para ninguém. O outro não interessa. O modo como se vestem, como se pintam ou o que estão fazendo não importa, são indiferentes a tudo. É um misto de respeito à privacidade com desprezo. Eu até gosto disso, mas naquele meu momento eu precisava de mais!
Uma pontada de frustração cutucou o fundo meu meu estômago me deixando ligeiramente irritada. Mas durou pouco. Eu carregava nas mãos meu "e-reader". Havia feito uma pausa para observar o mundo ao meu redor e como ele não me olhou de volta, segundos depois, estava novamente com a cara enfiada nas letrinhas miúdas e iluminadas à minha frente. Uma ficção que fala sobre fantasmas, não só do tipo assombrações, como aqueles do passado também. O livro que tem prendido muito mais a minha atenção do que o mundo real.
Sim. Os livros são as melhores companhias para quem está com falta de tesão pelo mundo. E eu tenho lido muito, assustoramente muito!
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