E quando somem as pegadas?

Eu disse a mim mesma “Não vou mais falar sobre morte” mas não tenho como evitar. Olho em volta, ligo a televisão, abro os jornais e só vejo a morte do guru Steve Jobs. Fico com a sensação de que o mundo não será o mesmo sem ele, sem suas visões, sua ousadia e coragem. É como enterrar Steven Spielberg! É como enterrar o futuro! É inevitável não analisar este sentimento de “orfandade” que paira sobre as pessoas.

Não pretendo falar sobre Jobs e a sua colaboração para o mundo moderno. Todos já sabem disso e os que não sabiam passaram a saber depois dos inúmeros especiais sobre ele que estão passando na televisão (ao menos na Itália tem sido assim, um atrás do outro). A questão é a sensação que isso nos traz: a morte de um herói.

É chocante quando morre um herói, porque heróis não morrem! Não podem morrer! Eles saem ilesos sob toneladas de rochas, ressurgem atrás de grossas nuvens de poeira e fumaça! Pena que na vida real as coisas não funcionem assim. Os heróis humanos envelhecem, adoecem e morrem deixando para trás um legado de idéias, mensagens e ações a serem seguidas. Por isso são heróis. E, por isso, é estranho enterrá-los como meros mortais.

Os heróis morrem, assim como os pais, os avós e os filhos. Eu sei, é muito cruel quando a vida foge dos trilhos e desemboca num lago de lágrimas. Todos nós sabemos. Todos nós já perdemos algum herói. Eu perdi vários, mas acredito que, para cada um que se vai, outro chega. Tem que chegar, porque o mundo precisa de heróis. NÓS precisamos de heróis. Agarramo-nos a eles como boias salva vidas, algo a ser imitado e seguido.

É muito mais fácil seguir as pegadas do que fazê-las. Dá-nos uma sensação de segurança saber que estamos pisando em terreno seguro, mas quando elas não existem mais, quando não temos a menor idéia de que caminho tomar é que a coisa aperta. Quando perdemos um herói, perdemos a referência e o breu que se faz ao nosso redor é assustador. Mas somente até o momento em que nos damos conta de que aquele herói que se foi nos deixou mais do que pegadas para seguir. Nos deixou a capacidade de caminharmos de olhos vendados, seguindo apenas o instinto que ele plantou dentro de nós. Por isso ele é um herói. Por ter-nos ensinado a caminhar sem pegadas à nossa frente.

Quanto a Jobs, ele abriu as portas para um mundo novo e, dia após dia, partes deste novo mundo estão sendo exploradas. Que o homem não se perca em tantas pegadas...