Anonymous, heróis ou vilões?
"Olá povo brasileiro, permitam me introduzir-me a vocês como anonymous e apenas como anonymous pois não sou mais do que uma ideia. Uma ideia de um mundo livre, sem opressão e pobreza e que não é comandada pela voz tirânica de um pequeno grupo de pessoas no poder.”... assim começa o vídeo divulgado pelo grupo Anonymous ao povo brasileiro. Um grupo de anarquistas que resolveu usar a internet para movimentar mentes - principalmente jovens - contra governos considerados corruptos e manipuladores. Ou seja, são contra praticamente todos os governos no mundo todo. Esta semana, os Anonymous (associados a outros hacktivistas, como o LulzSec) marcaram presença em sites brasileiros e italianos.
O que antes era apenas uma rebeldia cibernética, hoje, possui mais uma conotação política social com braços espalhados por praticamente todo o mundo. O grupo “Anonymous” (e seus braços) pode ser encontrado nos Estados Unidos, Alemanha, Holanda, Reino Unido, Espanha, Turquia, Portugal, Hungria, Angola e por aí vai. Recentemente, vimos que a “ideia” chegou também ao Brasil, nos recentes ataques aos sites governamentais.
Se a invasão em sites já é um crime, a coisa começa a complicar quando informações confidenciais são furtadas. Não são apenas as licitações fraudulentas que estão vazando por aí, mas os dados pessoais e bancários também. É uma visão mais anárquica (e mais criminosa) do WikiLeaks, organização que recebeu total apoio dos Anonymous quando o mesmo sofreu um grande boicote das instituiçoes financeiras, no ano passado. Os Anonymous orquestram um ataque em massa aos que levantavam a voz contra Julian Assange, como o MasterCard Inc., Visa Inc. e PayPal, filial do eBay Inc. Sem contar a briga com a Cientologia, em 2008, que fez o Anonymous ganhar fama mundial.
Basta procurar por “Anonymous”, no Facebook ou no Youtube para ter uma idéia da dimensão do movimento. Nos vídeos e nos sites da organização, os Anonymous se apresentam mascarados como Guy Fawkes (foto), em alusão maior ao filme V de Vingança – creio eu - do que ao personagem real, o soldado inglês morto na forca por traição! Em um dos milhares de posts no Facebook, a organização chama atenção para a máscara do personagem em grafite , convidando os participantes a baixar a foto e espalhar a marca pelo mundo. Um gráfico que vem acompanhado do lema “A Revolução está chegando”.
Aqui, neste exato momento, senti uma ponta de tristeza. Tenho uma veia rebelde, todos sabem. Gosto de atar fogo, gosto de ideia de uma grande movimentação popular, gosto de ideia de governos corruptos caindo sob os pés de uma multidão que, sem se cansar, fez greve de fome (mascarada de Fawkes, por que não?)... ah, tudo isso é tão romântico, tão envolvente! Mas, isso aqui é vida real e, na vida real, as coisas não acontecem bem assim. Principalmente nas mentes mais jovens.
O grafismo, a ideia de superioridade dos hacktivistas e o apelo popular me fez lembrar do filme “A Onda”, um claro exemplo (real) de como um grupo que inicialmente é contra os governos ditatoriais, pouco a pouco, perde o controle sobre os seus integrantes e torna-se tirano, racista e ditador. Tudo aquilo pelo qual lutava contra. E, na vida real, aquilo era apenas uma atividade escolar. E que terminou muito, muito mal.
Anonymous, LulzSec e todos os que surgem todos os dias no cyber espaço correm o risco, não só de terminar seus dias atrás das grades, mas também de se tornar tão ruim (ou piores) que seus algozes porque, afinal, estão cometendo atos terroristas igualmente. Rebeldes, revolucionários, anarquistas... adjetivos que – num primeiro momento – nos atrai, nos seduz, mas que, no final, perdem o controle, como reconheceu um dos membros do Anonymous, de 19 anos, quando foi preso, na Holanda.
Apesar das várias prisões que vem acontecendo (como a recente prisão de outro jovem de 19 anos, acusado de “mau uso do computador” além de fraude, na Inglaterra), a atuação cada vez mais frequente destes hacktivistas é algo que não se pode ignorar. Isso representa mais do que o descontentamento com os governos. Representa a fragilidade do sistema em que estamos conectados, hoje. A sua vida, a minha, a dos governos, tudo está armazenado em uma gigantesca rede, um mundo que só é invisível e abstrato aos olhos de leigos da informática. Os experts o vêem (e muito bem). Fazem das brechas e falhas dos sistemas as portas de entrada para a nossa vida privada.
Toda arma é letal quando bem usada e isso serve, também, para o teclado do computador. E, como eles mesmo dizem, “Somos o anonymous, somos uma legião, não perdoamos, não esquecemos.” Quisera usassem todo este “poder” realmente em prol da sociedade, como já fizeram no passado quando os “vigilantes” rastrearam a rede virtual e fecharam o cerco contra um pedófilo ajudando a polícia a encontrá-lo e finalmente a prendê-lo.
Sou a favor da livre imprensa, sou a favor da livre expressão, sou a favor de um movimento social contra os governos corruptos, sou a favor de uma sociedade justa, mas, sinceramente, não acho que grupos como Anonymous ou LuzSec possam abrir estes caminhos. É preciso saber impôr limites. O que vale também para o WikiLeaks, organização cuja ideia me agrada: publicar o não publicável, mas desde que seja para o bem comum e desde que não seja fruto de um furto. Todo jornalista sabe que as informações estão disponíveis, basta ter contato com a pessoa certa, no lugar certo. Não é preciso invadir nem furtar.
O que estes hacktivistas estão nos mostrando – e que nós devemos aprender com eles - é que é possível se movimentar. E fim.
Comentários
Obrigada pela sua leitura!
Você pode reproduzir o texto, sem problemas.
Gostei muito do seu blog. Parabéns!
Abraços
Érika Bento Gonçalves