O mal como protagonista
Polêmica envolvendo três países: Estados Unidos, Itália e Inglaterra. Dos Estados Unidos, sai o filme Amanda Knox: Murder On Trial in Italy que conta a história real de uma jovem americana, condenada na Itália, por assassinar uma jovem britânica, em novembro de 2007, durante uma possível festinha sexual que não deu muito certo. A polêmica atinge as duas famílias a da vítima e a da acusada.
Pais da vítima alegam que lhes haviam garantido que a cena do crime não seria retratada. Hoje, a cena, violenta, que obviamente faz parte do filme, pode ser vista em vários sites. O filme pode levar o espectador a pensar que Meredith Kercher, na época com 22 anos, teria aceitado participar da festinha e ido longe demais, o que, para os pais, é um absurdo. "Não entendo como o filme pode se chamar Amanda Knox quando a história é toda sobre a minha filha, a única que foi a vítima" desabafa Arline, mãe de Meredith.
Já os pais da acusada dizem que a filha é inocente. Amanda foi condenada a 26 anos de prisão. O namorado dela, Rafaelle Sellecito, italiano, foi condenado a 25 anos e Rudy Guede, africano, condenado a 16 anos. (foto, da esquerda para a direita: Meredith, Rudy, Rafaelle e Amanda)
Indiferente a tudo, o filme pode mesmo ser exibido, nos Estados Unidos, no dia 21 de fevereiro, pelo canal Lifetime. Para o diretor Robert Dornhelm, o filme se trata de psicologia humana. "O lado escuro pode explodir de uma hora para a outra na mente de qualquer um de nós", justifica Dornhelm.
Tenho outra versão.
Dornhelm é mais um no mundo cinematográfico que se aproveita de personagens reais e controversos. O cinema já percebeu, há décadas, que o ser humano se sente mais atraído pelo mal do que pelo bem. Mais pelo criminoso do que pela vítima. É como se o homem quisesse realizar os feitos do protagonista sem sujar as mãos de sangue. Um desejo mórbido, hipócrita e covarde (que todos... TODOS nós sentimos). Quantos filmes já foram produzidos cujos protagonistas eram os vilões, verdadeiros assassinos a sangue-frio? Milhares!
Do fundo do poço, ressucitamos Jack - O Estripador, Dorian Gray, passando por Jason, Freddy Krueger, Hannibal Lecter, Aileen Wuornos (do filme Monster), Perry Smith (do filme A Sangue Frio, Truman Capote), chegando ao recente sucesso (que já deu o que tinha que dar há muito tempo!) Jigsaw (Jogos Mortais). São centenas de personagens bem sucedidos de assassinos na história do cinema. E, diante de uma figura como Amanda Knox, jovem, bonita, inteligente, querida e, ao mesmo tempo, "o mal em pessoa", não faltariam propostas para uma nova protagonista.
Quando cheguei na Itália, em junho de 2008, Meredith já havia sido assassinada mas o caso estava sempre na mídia. Programas especializados em crimes (sim, a Itália também tem programas como este!) exibiam frequentemente as teorias, provas, suspeitas e especulações sobre o caso e eu, como toda a Itália, acompanhei o desfecho das investigações até que, em dezembro de 2009, o juri anunciou a condenação. Mas, outros rumos, podem estar por vir. Um novo exame de DNA, fundamental na condenação dos acusados, deve ser realizado.
Se Dornhelm souber trabalhar bem os meandros desta personagem, Amanda Knox pode se tornar famosa em todo o mundo, enquanto para Meredith, infelizmente, sobrou somente a tumba.
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