Estupros, imigração e milícias na Itália

Não dá para ler e ouvir o que se fala do governo "conservador" de Berlusconi, sem comentar. Dois termos caíram nas graças da imprensa (italiana e brasileira) e da oposição: xenofobia e fascismo. Ambas são equivocadas. Primeiro, que a xenofobia não acontece por aqui. Não por enquanto. Segundo, porque o endurecimento das leis contra a imigração clandestina é uma necessidade urgente, não uma ação fascista.

O que existe é um índice de criminalidade crescente envolvendo os imigrantes, até porque a população de estrangeiros aumenta diariamente e já chega a 10% da população do país (sem contar os clandestinos). O que existe é um país preocupado com o desemprego. Até pouco tempo atrás, o italiano não precisava procurar um trabalho "inferior". Com a crise e o desemprego aumentando, estes postos seriam bem-vindos para o italiano, mas estão lotados de imigrantes. O que se vê, são italianos esperando alguns meses por exames médicos enquanto os imigrantes são atendidos em um hospital especial, mesmo que seja um imigrante clandestino.

Nas últimas semanas, a imprensa italiana noticiou - diariamente - casos de estupros cometidos por imigrantes, principalmente romenos e norte-africanos. Entre as vítimas estão meninas de nove, 14 e 15 anos de idade. Mas a violência sexual não é cometida somente por imigrantes. A maioria dos casos (e que não têm o mesmo destaque) é causada por italianos, segundo o correspondente da BBC em Roma, David Willey. Mas o endurecimento das leis contra o estupro vale para todos os casos! Entre as novas medidas estão a prisão perpétua caso a vítima seja menor de idade e quando é seguido de morte. Nada mais justo contra um crime tão cruel e covarde, seja ele cometido por italiano ou estrangeiro.

O governo italiano aprovou, também, a formação do que estão chamando de "milícias populares". Na verdade, são grupos formados por civis e ex-policiais que - munidos apenas de um telefone celular e sem remuneração - farão patrulhas em todas as cidades do país atentas às situações suspeitas ou concretas de estupros. O que eles podem fazer? Nada além do que qualquer cidadão faria. Acionar a polícia! A diferença é que são pessoas que estarão nas ruas especificamente atentas. Não há nada de fascista nisso.

A imprensa estrangeira aceita os fatos sem conhecê-los a fundo. Recentemente, clandestinos abrigados no centro provisório de Lampedusa, no sul da Itália, atearam fogo nas instalações, em protesto contra o tratamento a que são submetidos. Vamos aos fatos: a ilha de Lampedusa é uma porta de entrada para os imigrantes vindos do norte da África. A maioria, desesperada para fugir do seu país, quando não chega sem os documentos simplesmente os destrói no meio do caminho. Ao chegar aqui, a Itália não tem nem como deportá-los. Mandariam para onde, já que não dizem nem de que países são? Com isso, os centros vão ficando superlotados. Só na metade do ano passado, quase 11 mil imigrantes desembarcaram no porto de Lampedusa. Por enquanto, eles podem ficar nestes centros por até dois meses. Se o caso de extradição não for julgado neste prazo, a justiça italiana não tem outra coisa a fazer a não ser liberá-los para as ruas! Com o novo decreto, que deve ser aprovado em 60 dias, este prazo sobe para seis meses, para evitar a liberação em massa de imigrantes que não têm a mínima condição de sobrevivência lá fora.

Percebe a bola de neve e a tensão criados na Itália? Desemprego, criminalidade, invasão e violência. A Itália sempre foi um país que acolheu bem os estrangeiros. As prefeituras oferecem cursos gratuitos da cultura e idioma italianos. Por aqui, se vê imigrantes trabalhando em hotéis, cafés, fábricas, indústrias e comércio, não só em "subempregos". Os filhos de imigrantes frequentam as escolas públicas como qualquer cidadão. Mas a água no copinho do italiano está subindo e se o governo "conservador" de Berlusconi não tomar medidas drásticas contra os imigrantes clandestinos que vêm a este país promover o caos, esta água vai transbordar e - aí sim - poderemos viver uma onda de xenofobia, na Itália.

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