A vingança da Fênix (parte I)
Já caí e levantei-me tantas vezes que seria impossível enumerá-las ou colocá-las em ordem cronológica. Certamente me perderia na centésima, quando ainda era uma adolescente, tempo em que meus amigos passaram e me chamar de "Fênix".
O processo não é fácil. Deixar-se destruir leva tempo, e por mais que doa, por mais que enlouqueça, por mais que seja insuportável, tornou-se um vício para mim.
Preciso da morte mais do que você precisa da sua vida.
Dar-se conta de que está se entregando à morte assusta, mas é preciso. Só assim posso libertar-me para uma nova vida. E deixo-me levar. A respiração e o coração disparam. Sinto o cheiro. Sinto o calor e, por um segundo, acho que não serei capaz.
As chamas começam na consciência. As lembranças vêm e vão num frenezi enlouquecedor, sem trégua, sem piedade, sem máscaras, sem pudor. A armadura que contruimos ao longo do tempo para nos proteger de nossos próprios demônios, se desmancham num fogo indestrutível. E não há mais volta.
Perder a razão é mais intenso e doloroso do que perder os órgãos, membros e a pele. Aliás, quando o fogo atinge o exterior dá-se início o prazer. Mas até que chegue este momento, algumas vezes, sinto que não vou aguentar.
A mente arde sem febre. Não há remédio que alivie a dor de ver seus sonhos destruídos; a esperança se transformando em cinzas e toda a sua base sendo dizimada impiedosamente. Sinto-me num espaço de total solidão onde minha dor não é vista por ninguém. Meus gritos de agonia não são ouvidos e meu desespero não se reflete em meu olhar, que mira o vazio esperando que tudo termine.
Mas está só começando.
Quando sinto o perder da razão, lembro-me do porquê estou permitindo esta mais nova destruição. E desejo, cada vez mais, que o fogo queime dentro de mim, é quando começa um duelo fatal entre a mente e o coração. A consciência possui um estado de alerta que reage à qualquer ameaça. E não é diferente nesta hora.
Ela se debate, se agarra à razão e sangra para que o fogo se apague. Mas o desejo da transformação é mais forte. Faz do líquido vital um combustível e a mente explode.
A consciência se vai. O rumor se aquieta e ouço somente o estalar das chamas, ardendo e ardendo, queimando o que resta dos meus sonhos de menina. E o medo desaparece. Resta somente a dor, este ingrediente fantástico que faz de mim uma escrava do meu próprio desejo. O de morrer.
Quando não há mais sentimento, quando a indiferença perante a vida e a morte se instalam, é hora de perder o corpo. Entregar-se ao calor e deixar que tudo carbonize completamente. A dor física é uma dádiva. Caminho para um êxtase mais intenso do que qualquer emoção humana pode sentir. Um ogasmo múltiplo que se intensifica a cada chama.
Os órgãos internos se derretem. Os músculos se contraem. O corpo desaba sobre uma pilha de ossos que se desencaixam como um quebra-cabeças.
E eu ainda estou lá. Viva!
Antes que meu coração pare e se desmanche; antes que meus olhos não possam mais enxergar, encaro a sua imagem em minha mente. E será ela quem eu perseguirei por toda a eternidade. Que sejam preciso quantas mortes e renascimentos. Não me importo. Será sempre um prazer.
A sua imagem é a última a se apagar e tudo fica negro e quieto.
Negro e quieto. Negro ... e quieto. Negro... ne-gro... ne-gro... quieto... qui-e-to... qui....
.... Da próxima vez, não irei só. E quem levarei comigo não é uma Fênix, com eu...
... Que pena para ela....
.
Um grito! E as imagens voltam em minha mente.
É ela quem eu vejo.
É você, a pessoa a quem buscarei nos meus piores pesadelos.
Tenha certeza de que - para o meu deleite - a sua vida será um inferno!
E minhas asas se abrem, ainda maiores do que antes.
Alço num vôo de vingança.
Atrás de você.
O processo não é fácil. Deixar-se destruir leva tempo, e por mais que doa, por mais que enlouqueça, por mais que seja insuportável, tornou-se um vício para mim.
Preciso da morte mais do que você precisa da sua vida.
Dar-se conta de que está se entregando à morte assusta, mas é preciso. Só assim posso libertar-me para uma nova vida. E deixo-me levar. A respiração e o coração disparam. Sinto o cheiro. Sinto o calor e, por um segundo, acho que não serei capaz.
As chamas começam na consciência. As lembranças vêm e vão num frenezi enlouquecedor, sem trégua, sem piedade, sem máscaras, sem pudor. A armadura que contruimos ao longo do tempo para nos proteger de nossos próprios demônios, se desmancham num fogo indestrutível. E não há mais volta.
Perder a razão é mais intenso e doloroso do que perder os órgãos, membros e a pele. Aliás, quando o fogo atinge o exterior dá-se início o prazer. Mas até que chegue este momento, algumas vezes, sinto que não vou aguentar.
A mente arde sem febre. Não há remédio que alivie a dor de ver seus sonhos destruídos; a esperança se transformando em cinzas e toda a sua base sendo dizimada impiedosamente. Sinto-me num espaço de total solidão onde minha dor não é vista por ninguém. Meus gritos de agonia não são ouvidos e meu desespero não se reflete em meu olhar, que mira o vazio esperando que tudo termine.
Mas está só começando.
Quando sinto o perder da razão, lembro-me do porquê estou permitindo esta mais nova destruição. E desejo, cada vez mais, que o fogo queime dentro de mim, é quando começa um duelo fatal entre a mente e o coração. A consciência possui um estado de alerta que reage à qualquer ameaça. E não é diferente nesta hora.
Ela se debate, se agarra à razão e sangra para que o fogo se apague. Mas o desejo da transformação é mais forte. Faz do líquido vital um combustível e a mente explode.
A consciência se vai. O rumor se aquieta e ouço somente o estalar das chamas, ardendo e ardendo, queimando o que resta dos meus sonhos de menina. E o medo desaparece. Resta somente a dor, este ingrediente fantástico que faz de mim uma escrava do meu próprio desejo. O de morrer.
Quando não há mais sentimento, quando a indiferença perante a vida e a morte se instalam, é hora de perder o corpo. Entregar-se ao calor e deixar que tudo carbonize completamente. A dor física é uma dádiva. Caminho para um êxtase mais intenso do que qualquer emoção humana pode sentir. Um ogasmo múltiplo que se intensifica a cada chama.
Os órgãos internos se derretem. Os músculos se contraem. O corpo desaba sobre uma pilha de ossos que se desencaixam como um quebra-cabeças.
E eu ainda estou lá. Viva!
Antes que meu coração pare e se desmanche; antes que meus olhos não possam mais enxergar, encaro a sua imagem em minha mente. E será ela quem eu perseguirei por toda a eternidade. Que sejam preciso quantas mortes e renascimentos. Não me importo. Será sempre um prazer.
A sua imagem é a última a se apagar e tudo fica negro e quieto.
Negro e quieto. Negro ... e quieto. Negro... ne-gro... ne-gro... quieto... qui-e-to... qui....
.... Da próxima vez, não irei só. E quem levarei comigo não é uma Fênix, com eu...
... Que pena para ela....
.
Um grito! E as imagens voltam em minha mente.
É ela quem eu vejo.
É você, a pessoa a quem buscarei nos meus piores pesadelos.
Tenha certeza de que - para o meu deleite - a sua vida será um inferno!
E minhas asas se abrem, ainda maiores do que antes.
Alço num vôo de vingança.
Atrás de você.
Comentários
A fénix vai, sem dúvida, ser tatuada no meu corpo. Já comecei a perceber que a ferida física fere menos que um sopro no coração!
desde já obg
Érika.